No meu silêncio - mais de frustração do que de revolta - vi passar teu aniversário no esquecimento; vi teus cento e sessenta e sete anos de uma existência histórica rica e economicamente prodigiosa no passado, ser "jogada fora" da memória do teu povo, pela negligência e falta de amor de quem de direito, ao berço de tantos e tantos filhos que aqui viveram e lutaram pela tua existência como a cidade que hoje és.
- Que fizeram de ti, minha cidade?
- Onde estão teus verdadeiros filhos?
- A que te reduziram, ao longo desse mais de um século de EMANCIPAÇÃO POLÍTICA, te transformando nesse palco de cenários macabros com atores de qualidade duvidosa?
- O que foi feito com teus rios, tuas matas e com teu povo - hoje mero espectador dessa comédia sinistra - para hoje te encontrares nesse caos?
- Onde estão teus alunos de ontem, destaques na profissão que escolheram dentro e fora da nossa cidade, frutos de uma verdadeira educação escolar pautada em alicerces da disciplina e do respeito, sem os exageros apregoados em "alto e bom som" pelos adeptos de uma pseudo-educação aberta e democrática, escancaradamente fabricando "monstrinhos" vazios de conteúdo, formação, disciplina e respeito para com os seus mestres?
- Onde estão teus profissionais de saúde - como SEU MENESES (excelente farmacêutico que atuou por muitos anos em nossa cidade), SEU PIMENTEL (enfermeiro e pai de Maxwell) CHICO BEZERRIL (enfermeiro e pai de Anamaria Bezerril filha da terra), SEU MANOEL AMARO (enfermeiro e patriarca da família Amaro Freire) - pioneiros como "médicos da família" em nossa cidade, que com ética e dedicação viam nos seus pacientes, semelhante e não apenas um corpo para o exercício da profissão, muitas vezes alinhavada nas "faculdades portáteis" que se proliferam por todo país. Vale salientar, no entanto, que há as exceções nesse setor, em face de haver em nossa cidade, profissionais competentes que dirigem a instituição e não fazem dela um meio de promoção social.
-Onde estão teus agricultores, que antes contavam com o apoio do FOMENTO AGRÍCOLA (Manimbu, Aglomerado Rural do nosso Município), órgão do governo que sem burocracia e entraves outros, procurava ajudar os agricultores nas suas dificuldades. Hoje, mesmo com modernas instituições e novas tecnologias aplicadas ao setor, eles se deparam com "outros entraves" para tocar sua atividade.
-Onde buscar a limpeza das tuas ruas - antes servida apenas por uma carroça puxada por um boi, e depois por um trator que puxava essa mesma carroça - hoje tão sujas, tão esquecidas com esgoto "a céu aberto" expondo os teus habitantes a todo tipo de contaminação, sem falar no acúmulo de lixo pelas ruas, mesmo com caminhões de empresas "terceirizados" para esse fim?
- E a tua cultura? Onde iremos buscá-la se não temos mais um cinema, um clube social, onde se ouvir uma boa música, e os nossos artistas (pintores, artesãos, escritores, poetas, músicos, etc.) estão desnorteados tentando apresentar seus trabalhos, sem saber como, quando e a quem se dirigir, pois não existe (na prática) um órgão agregador dessa atividade humana em nosso Município - talvez por não dar "os frutos" desejados em determinadas épocas políticas - porque pela Lei, existe UM MUSEU, UMA CASA DE CULTURA, UMA FUNDAÇÃO, tudo oficialmente criado mas nunca utilizado como tal.
-E as tuas grandes promoções cívicas, o que dizer? Os teus grandes desfiles mobilizando a cidade inteira em torno das duas grandes escolas da cidade (Barão e Pio XII) fazendo "escola" para as cidades vizinhas que hoje são mestras no assunto.
-E os teus carnavais, São João, bailes de férias, peças teatrais, serestas e "assustados" na casa dos amigos?
(Hoje, basta um palanque com um batuque qualquer, muita bebida e "outras cositas mais", para que a tua juventude vazia, pule a noite inteira como fantasmas desvairados saídos do cemitério por não ter mais lugar para descansar).
Pois é, minha cidade; hoje apenas existes no mapa político (aquele mapa da contagem dos votos) por ocasião das eleições, para tantos quantos desejam ser TEU CHEFE, TEU DONO, porque é assim que és vista aos olhos dos aspirantes ao poder seja ele majoritário ou não, pois todos eles fazem do cargo que ocupam (ou postulam) sua atividade profissional e dela usufruem as benesses que ele oferece, muitos INSISTENTEMENTE querendo se perpetuar no cargo.
A frustração, a desolação, a angústia a tristeza e a vergonha nos corróem e nos deixam estáticos sem vontade de lutar porque NUNCA NA HISTÓRIA DESSE PAÍS (e por tabela) DESSE ESTADO E DESSE MUNICÍPIO, se viu tanto descaso, tanta lama, tanta corrupção e tanta faltam de dignidade envolvendo os poderes constituídos dessa nação, que é orgulho para uns e apenas um meio de ascensão social e econômica para tantos!
"MEUS PÊSAMES, MINHA CIDADE!"
(Maria Lúcia Amaral)
Fonte: Blog De Olho em Mipibu
Parabéns a Lúcia Amaral e a Ângela Freire que postou esse depoimento lindo e triste ao mesmo tempo. Saudades dos velhos tempos. Fiquei muito emocionada e me veio lágrimas nos olhos ao ler esse texto. Parabéns a quem ainda se importa por essa linda e abandonada cidade.
ResponderExcluirFiquei emocionada com o texto lindo e bem escrito.Fico feliz por ainda existirem pessoas aí na nossa querida São José que ainda se importam com essa linda cidade que está tão maltratada. Parabéns a Lúcia Amaral e Angela Freire.
ResponderExcluirParabéns à grande professora e historiadora Lúcia Amaral pelas suas sábias e homéricas palavras a respeito do triste quadro que vemos em nossa cidade.
ResponderExcluirDISSE TUDO!!!!!!!