Pároco de São José de Mipibu
No código de Direito Canônico, art. 519, está codificado que o pároco é o pastor próprio da paróquia a ele confiada; exerce o cuidado pastoral da comunidade que lhe foi entregue, sob a autoridade do Bispo diocesano, em cujo ministério de Cristo é chamado a participar, a fim de exercer em favor dessa comunidade o múnus de ensinar, santificar e governar, com a cooperação dos fiéis leigos, de acordo com o direito. A experiência parocal é muito exigente. As relações estabelecidas envolvem muitas pessoas. Há um dinamismo muito enriquecedor, quando vivido com responsabilidade e testemunho, de ambas as partes, ou seja, a pessoa do pároco e dos paroquianos. Um texto de leitura satisfatória e deleitosa, para qualquer bibliófilo, é o “Diário de um pároco de aldeia” de Bernanos (escritor francês). O mesmo, ao iniciar sua genial obra, diz “minha paróquia, parafraseando o pároco, é uma paróquia como todas as outras. Todas as paróquias se parecem. As paróquias de hoje, naturalmente. Eu dizia ontem ao pároco de Nerofontes: o bem e o mal devem ficar em equilíbrio nelas, só que o centro de gravidade está lá embaixo, bem lá embaixo”. Como escritor, não teólogo, este centro não vem tão bem elucidado pelo autor, que, se o fosse, deveria dizer que este centro de gravidade é o mistério pascal de Cristo, que é força motriz e vencedora do mal que assola muitas vezes às paróquias. Mas porque nela estão presentes pessoas, que por mais pecadores que o sejam, são filhos de Deus, apesar de muitas vezes se comportarem como filhos da mentira.
O tipo de relação que o pároco, mistagogicamente, deve ter com a paróquia é a mesma que Cristo teve com sua Igreja (Ef. 5,25), ou seja, ele se consagra e a ela se doa. Vale tomar a metáfora e dizer que a paróquia para o pároco é como uma esposa para a qual o “padre homem e o homem padre” está permanentemente a dedicar-se. Com fidelidade e respeito, amando e respeitando-a até que providencialmente Deus os separe. O equilíbrio humano, refletido na postura de quem está apto a ser Pater família” (Pai de família), é algo a ser atualmente zelado por quem tem a responsabilidade de formar futuros sacerdotes. O escritor tem razão quando diz que sua paróquia é como as outras, mas o ponto de equilíbrio será aquele que agirá “in persona Christi”. Um pároco de uma cabeça bagunçada, faz muito mal a sua paróquia. Um padre, que não dá testemunho e que não tem uma identidade sacerdotal que se define diariamente para Cristo, vicia e tenderá os fiéis para o mal. O múnus de ensinar, santificar e governar a paróquia será responsabilidade deste pastor próprio, em comunhão com o Bispo. O papa João Paulo II afirmou que o padre de ontem, de hoje e de amanhã deve se configurar a Cristo (Pastores dabo vobis, 5). A cultura da mediocridade que impulsiona a muitos serem amantes do luxo, do materialismo, do carreirismo, da sexualidade doentia e do laxismo moral precisa ser superada. O Papa Bento XVI afirmou que os piores inimigos da Igreja estão dentro da própria Igreja.
Tomando o outro lado, lembro aos fiéis leigos que estes também são responsáveis pelo bem da vossa paróquia. O pároco precisa trabalhar com pessoas de amor a Cristo e a sua Igreja. Esta não pode ser usada para promoções individuais, no campo econômico, político e social. É a comunidade dos fiéis batizados. Com eles e o pároco deve haver parceria e consciência de pertença a Cristo, marcada pelo Batismo. Este sacramento os faz participarem de um único Povo, que é o de Deus. Jesus no capítulo 17 de João nos dá a pista para o tipo de relação entre este Povo e o seu sacerdote.
Por fim, o amor não dispensa a justiça. O pároco e os fiéis não podem esquecer destas atitudes. O pároco ensina o amor que santifica e que se santifica e age com a justiça que não perde nem é perdida. O mesmo Cristo que perdoa é o mesmo que diz que não peques mais. Amor sem justiça é alimento que cria sanguessugas. Hoje a maior proposta é que todos se tornem discípulos missionários para renovação de todas as estruturas, individuais e coletivas.
Assim o seja!
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